Um confrade no Knutpunkt!
E a jornada começa!
É tarde, véspera do embarque para o Knutpunkt quando o aviso de alerta de início do check in online da companhia aérea chega no e-mail. Frio na barriga e dezenas de checklists e conferências de malas e providências finais a tomar depois, a jornada começava enfim a se materializar.
Expectativas altas? Preocupações também. Viajar sozinho para outro continente é o tipo de coisa que evoca um planejamento detalhado e a reafirmação constante de que foi uma boa decisão.
Minha mala entupida de roupas para suportar um frio - que não se fez presente no todo.
E a mala do larp? Se já é difícil de preparar quando o jogo vai acontecer na mesma cidade que vivo, imagina agora? Bom, é claro que os confrades me aconselharam a fazer uma produção mais enxuta e estratégica, mas ainda assim, uma digna mala de 25kg repousava em minha frente como testemunha da loucura que estava cometendo.
Despedidas, recomendações e sigo para o Aeroporto!
Expectativas altas? Preocupações também. Viajar sozinho para outro continente é o tipo de coisa que evoca um planejamento detalhado e a reafirmação constante de que foi uma boa decisão.
Minha mala entupida de roupas para suportar um frio - que não se fez presente no todo.
E a mala do larp? Se já é difícil de preparar quando o jogo vai acontecer na mesma cidade que vivo, imagina agora? Bom, é claro que os confrades me aconselharam a fazer uma produção mais enxuta e estratégica, mas ainda assim, uma digna mala de 25kg repousava em minha frente como testemunha da loucura que estava cometendo.
Despedidas, recomendações e sigo para o Aeroporto!
Amsterdã
Viagens internacionais, desde os atentados de 11 de setembro são sempre estressantes nos momentos de embarque e desembarque - não que eu tenha feito muitas. A impressão que se tem é que mesmo não tendo nada de errado, qualquer palavra ou comportamento errado já é motivo para ser interrogado e impedido de seguir.
O plano inicial incluía uma visita à cidade para dar conta da longa espera de 9 horas que tinha que fazer até a conexão final para Linköping.
Uma hora só para passar pela revista. Mãos na cabeça, tira os sapatos, scanner 3D do corpo, bagagem de mão revistada.
Pedi informações e tentei sair do aeroporto, mas um problema de superlotação impossibilitava que isso fosse feito sem risco de perder a conexão, então após andar muito no aeroporto, me perder e quase ir parar na detenção da polícia federal (...), tive a ajuda dos funcionários do aeroporto para retornar à área internacional - claro, após passar novamente pela revista toda.
De fato, o menor aeroporto que já vi, aparentemente pouco maior que um McDonalds em São Paulo! Mas agora não estava mais sozinho. O Knutpunkt me encontrou antes do Knutpunkt. Uma das tradições do evento é adotar alguém ou ser adotado - e é claro eu fui adotado. Mire, uma larper da Espanha, apareceu para me resgatar. E agora tinhamos um plano para chegar até o KP: caminhar vinte minutos até o centro de Linkoping. Havia claro alguns desafios, como arrastar minhas malas pesadas, depois de mais de 24 horas de viagem, no frio da meia noite e ainda na estrada escura…
Bom, quando estávamos a atravessar a passarela na estrada, um senhor nos alcançou perguntando onde iríamos e se queríamos uma carona. Pausa. A pergunta óbvia é por quê não pegamos um táxi, claro, mas os preços são absurdos dos táxis lá e a essa hora da noite seria quase impossível encontrar um. Prosseguindo, o senhor oferece carona, eu penso logo nos meus órgãos sendo revendidos no mercado clandestino do leste europeu (...), mas Mire pareceu muito convicta e, como estava muito cansado da viagem, resolvi aceitar.
E foi assim que um senhor desconhecido nos deu carona até o hotel do evento Knutpunkt, com uma proza tranquila e serena, recebendo inclusive uma curta aula sobre o que é larp nos 8 minutos de carro de viagem. Agradecemos muito a gentileza.
Encontrei finalmente pessoas que conhecia somente pela internet, como a Olívia Fischer, a Sarah Lynn Bowman, entre outros! E aí foram tantas pessoas que o meu cérebro, afetado pelo jetlag e o cansaço da viagem, começou a confundir. O cérebro parecia que não respondia direito mais.
A essa hora, a abertura oficial do KP me salvou! Em um lindo anfiteatro, foi uma oportunidade de descansar um pouco a mente e começar a me acostumar melhor com o idioma.
Logo a programação deu sequência e veio a TV KP, com esquetes sobre as atividades do evento representadas com muito humor! Fui pego de surpresa. Ajudou no sentimento de pertença, de que minhas atividades não eram marginais ao evento, e sim tão parte como qualquer outra da programação.
Participei de palestra sobre um projeto de Edu-larp, sobre responsabilidade dos larpers no larp, sobre expectativas, entre outras.
Foi ótimo poder falar com a Olivia Fischer, Nina Teerilahti, Mark Hill, Alessandro Giovannucci e seus companheiros da Chaos League, Adrian Hvidbjerg, Sandy Bailly, Amalia Valero, Karin Lundengard, Charlie Haldén, Nadja Lipsyc, Lars Kristian, Maria Maciuca, Timothy Yuan e tantos outros! É uma pena não lembrar de todos os nomes - ainda espero fazer o meu cérebro recuperar todos os fragmentos do final de semana!
Claro que as limitações do meu vocabulário inglês não me permitiram ter conversas mais profundas e que certamente cometi muitos erros, mas é realmente digno de destaque o quanto todos se esforçam para ouvir, para incluir todos.
Após minha palestra Larp for everyone, fui surpreendido com ótimas conversas sobre similaridade das cenas mesmo estando em países distantes e sem uma comunicação direta.
Da Biblioteca Narbal Fontes no fim dos anos 90 aos larps em Centros Culturais e em cidades do interior de São Paulo na última década, a abordagem da palestra foi no sentido de falar sobre como a Confraria das Ideias entende a importância do uso do espaço público e das verbas públicas destinadas à cultura para manter os larps gratuitos aos participantes, bem como uma série de pontos importantes para manter o ambiente seguro, visando a inclusão de todos.
Eu penso que as festas têm um papel importante no evento, aproxima todos, quebra barreiras e deixa cada um pouco mais acessível. Além claro, de serem muito divertidas.
Claro, os desafios estavam postos à mesa. Estava pela primeira vez sem a presença física dos meus companheiros de estrada para preparar tudo, mas é claro que de alguma forma estavam ali comigo. Cada passo, cada estratégia para fazer uma montagem rápida, continha um aprendizado e uma orientação dos demais confrades.
Foi emocionante como larp designer e artista, poder compartilhar um larp que se mostrou potente mesmo fora de seu idioma original. Os jogadores se doaram completamente e a mágica foi feita.
Independente do idioma e das diversas culturas representadas ali pelos jogadores (Suécia, Finlândia, Alemanha, França e Bélgica) quando o jogo começou, todos eram adolescentes brasileiros vivendo traumas, frustrações, esperanças e acontecimentos da recente história brasileira dos últimos cinquenta anos.
Sara A Vargas, Marius Meiser, Nina Mutik, Fredrik Akerlind, Jonas Horberg, Louis Breton e Saskia Martens, que privilégio foi compartilhar essa experiência com vocês!
As emoções foram fortes e levaram a conversas longas e passionais após o larp.
O plano inicial incluía uma visita à cidade para dar conta da longa espera de 9 horas que tinha que fazer até a conexão final para Linköping.
Uma hora só para passar pela revista. Mãos na cabeça, tira os sapatos, scanner 3D do corpo, bagagem de mão revistada.
Pedi informações e tentei sair do aeroporto, mas um problema de superlotação impossibilitava que isso fosse feito sem risco de perder a conexão, então após andar muito no aeroporto, me perder e quase ir parar na detenção da polícia federal (...), tive a ajuda dos funcionários do aeroporto para retornar à área internacional - claro, após passar novamente pela revista toda.
O menor aeroporto e uma ajuda inesperada
O voo foi rápido, somente duas horas até o pequeno aeroporto de Linkoping. Esse foi o momento mais solitário da viagem, principalmente quando eu resolvi olhar o Google maps e vi que a direção do voo rumo ao polo norte quase... Ao menos a lua estava deslumbrante.De fato, o menor aeroporto que já vi, aparentemente pouco maior que um McDonalds em São Paulo! Mas agora não estava mais sozinho. O Knutpunkt me encontrou antes do Knutpunkt. Uma das tradições do evento é adotar alguém ou ser adotado - e é claro eu fui adotado. Mire, uma larper da Espanha, apareceu para me resgatar. E agora tinhamos um plano para chegar até o KP: caminhar vinte minutos até o centro de Linkoping. Havia claro alguns desafios, como arrastar minhas malas pesadas, depois de mais de 24 horas de viagem, no frio da meia noite e ainda na estrada escura…
Bom, quando estávamos a atravessar a passarela na estrada, um senhor nos alcançou perguntando onde iríamos e se queríamos uma carona. Pausa. A pergunta óbvia é por quê não pegamos um táxi, claro, mas os preços são absurdos dos táxis lá e a essa hora da noite seria quase impossível encontrar um. Prosseguindo, o senhor oferece carona, eu penso logo nos meus órgãos sendo revendidos no mercado clandestino do leste europeu (...), mas Mire pareceu muito convicta e, como estava muito cansado da viagem, resolvi aceitar.
E foi assim que um senhor desconhecido nos deu carona até o hotel do evento Knutpunkt, com uma proza tranquila e serena, recebendo inclusive uma curta aula sobre o que é larp nos 8 minutos de carro de viagem. Agradecemos muito a gentileza.
Linköping, a cidade cinematográfica
Depois de uma noite de sono e um café da manhã pesado, hora de passear um pouco pela cidade antes do evento começar oficialmente!Linköping me pareceu como um set de filmagens. Talvez pela arquitetura, talvez pela organização e limpeza. Havia inclusive um sol bastante acolhedor.
A igreja com a praça na frente poderia lembrar qualquer cidade do interior de São Paulo não fosse a ausência de um coreto e do "sorvete de abelha", sem falar que tudo era plano e, mais uma vez, muito limpo. Não tinha pombos nem o tio da pipoca (ponto negativo aqui!).
Apresentações, Jet leg, barreiras do idioma e cérebro em pane!
No hotel começam a chegar mais e mais pessoas para o KP. Muitos já se conhecem e os abraços começam. Mire me apresenta a alguns, e então começo a viralizar e ser apresentado por outros a outros ainda. Esse momento me lembrou o começo de noite de uma Fantástica Jornada Noite Adentro na Biblioteca Viriato Corrêa, com as pessoas chegando e se abraçando - senti que estava no lugar certo.Encontrei finalmente pessoas que conhecia somente pela internet, como a Olívia Fischer, a Sarah Lynn Bowman, entre outros! E aí foram tantas pessoas que o meu cérebro, afetado pelo jetlag e o cansaço da viagem, começou a confundir. O cérebro parecia que não respondia direito mais.
A essa hora, a abertura oficial do KP me salvou! Em um lindo anfiteatro, foi uma oportunidade de descansar um pouco a mente e começar a me acostumar melhor com o idioma.
Magazine, TV KP e primeiras atividades!
Sorriso de orelha a orelha. Revista nas mãos e dois artigos publicados, um com o Thomaz Barbeiro e outro com o Luís Prado. Ver o lindo trabalho de diagramação que foi feito e as fotos que representam um pouco do que a Confraria das Ideias fez e passou nos últimos anos foi muito compensador. E ao compartilhar com o pessoal no Brasil via whatsapp e receber uma calorosa saudação foi como se por alguns instantes tivesse transportado todos os confrades para a Suécia. E pensando bem, foi isso mesmo. Eles estiveram presentes em tudo que fiz, acompanhando cada passo da viagem pelo aplicativo de mensagens e comentando em tempo real!Logo a programação deu sequência e veio a TV KP, com esquetes sobre as atividades do evento representadas com muito humor! Fui pego de surpresa. Ajudou no sentimento de pertença, de que minhas atividades não eram marginais ao evento, e sim tão parte como qualquer outra da programação.
Seguindo o fluxo
No Knutpunkt acontecem várias atividades simultâneas e, como a comunidade mesmo reforça o tempo todo, você precisa aceitar que não vai conseguir participar de tudo. Com a programação na tela do celular, cada um vai de sala em sala, escolhendo atividades ou simplesmente dando um tempo nas áreas comuns do Centro de Convenções, conversando um pouco ou simplesmente descansando.Participei de palestra sobre um projeto de Edu-larp, sobre responsabilidade dos larpers no larp, sobre expectativas, entre outras.
A arte do Encontro
Confesso que as primeiras conversas que tive foram difíceis por conta da adaptação, mas ainda assim não deixavam de ser fascinantes. No final do primeiro dia (eu acho) uma roda de conversas com larpeiros de vários países, como a Sarah Lynn Bowman, o Kjell Hedgard, o pessoal da Terrible Creations e outras pessoas que infelizmente não me recordo o nome. O evento é uma oportunidade muito interessante de poder conversar larp designers e jogadores do mundo todo, e os papos acontecem nos corredores, salas de atividades e até mesmo durante as refeições.Foi ótimo poder falar com a Olivia Fischer, Nina Teerilahti, Mark Hill, Alessandro Giovannucci e seus companheiros da Chaos League, Adrian Hvidbjerg, Sandy Bailly, Amalia Valero, Karin Lundengard, Charlie Haldén, Nadja Lipsyc, Lars Kristian, Maria Maciuca, Timothy Yuan e tantos outros! É uma pena não lembrar de todos os nomes - ainda espero fazer o meu cérebro recuperar todos os fragmentos do final de semana!
Claro que as limitações do meu vocabulário inglês não me permitiram ter conversas mais profundas e que certamente cometi muitos erros, mas é realmente digno de destaque o quanto todos se esforçam para ouvir, para incluir todos.
Após minha palestra Larp for everyone, fui surpreendido com ótimas conversas sobre similaridade das cenas mesmo estando em países distantes e sem uma comunicação direta.
Da Biblioteca Narbal Fontes no fim dos anos 90 aos larps em Centros Culturais e em cidades do interior de São Paulo na última década, a abordagem da palestra foi no sentido de falar sobre como a Confraria das Ideias entende a importância do uso do espaço público e das verbas públicas destinadas à cultura para manter os larps gratuitos aos participantes, bem como uma série de pontos importantes para manter o ambiente seguro, visando a inclusão de todos.
Um pouco sobre as festas
A noite chega e as festas começam. Tem as festas formais, as "room parties", as festas espontâneas, etc. Bancar o gangster anos 1920 foi bem divertido, e os figurinos estavam ótimos! Muita música, dança, joelho e costas reclamando, mas a endorfina compensando!Eu penso que as festas têm um papel importante no evento, aproxima todos, quebra barreiras e deixa cada um pouco mais acessível. Além claro, de serem muito divertidas.
Uma jornada dentro da jornada - larp Cegos, Surdos e Mudos!
Um capítulo à parte, o primeiro larp internacional da Confraria das Ideias. E por falar em jornadas, justamente um jogo que atravessa o tempo, que fala sobre vínculos, amizades, perdas, traumas, tudo embalado com a Ópera Rock Tommy (The Who) e a história do Brasil de pano de fundo.Claro, os desafios estavam postos à mesa. Estava pela primeira vez sem a presença física dos meus companheiros de estrada para preparar tudo, mas é claro que de alguma forma estavam ali comigo. Cada passo, cada estratégia para fazer uma montagem rápida, continha um aprendizado e uma orientação dos demais confrades.
Foi emocionante como larp designer e artista, poder compartilhar um larp que se mostrou potente mesmo fora de seu idioma original. Os jogadores se doaram completamente e a mágica foi feita.
Independente do idioma e das diversas culturas representadas ali pelos jogadores (Suécia, Finlândia, Alemanha, França e Bélgica) quando o jogo começou, todos eram adolescentes brasileiros vivendo traumas, frustrações, esperanças e acontecimentos da recente história brasileira dos últimos cinquenta anos.
Sara A Vargas, Marius Meiser, Nina Mutik, Fredrik Akerlind, Jonas Horberg, Louis Breton e Saskia Martens, que privilégio foi compartilhar essa experiência com vocês!
As emoções foram fortes e levaram a conversas longas e passionais após o larp.
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