Como o LARP me ajudou a fazer as pazes com a cultura regional brasileira
(publicado originalmente no site www.norteandovc.com.br, 12/5/2016)
Tanto quanto diversos outros jovens amantes de cultura pop dos anos 70, 80 e 90, meu repertório foi construído embasado em enlatados, seja de filmes de ficção como “Star Wars”, “De Volta para o Futuro”, “Aliens”, etc., como nas séries da TV “Esquadrão Classe A”, “Arquivo X”, “Profissão Perigo”, “Jaspion”. Na hora de procurar um livro, a regra se mantinha com os clássicos de Aghata Christie, Edgar Allan Poe, entre outros.
Além de um preconceito adolescente com o cenário nacional, havia uma falta de identificação para me deixar envolver pelas histórias, como se não houvesse uma relação que pudesse me prender, julgando, erroneamente, estar completamente alheio a todas as influências da terra brasilis.
O movimento de mudança teve a primeira fagulha quando assisti ao filme “O Auto da Compadecida” (Ariano Suassuna, direção Guel Arraes) lançado em setembro de 2000.
Foi então que, anos depois em um evento solicitado pela Secretaria de Cultura de São Paulo, surgiu a ideia de fazer um larp com o tema cangaço(inspirado por conta da proximidade com a data do aniversário de vinte anos de falecimento do cantor e compositor Luiz Gonzaga).
Quando nos reunimos para a criação do larp foram resgatadas diversas referências, desde elementos de cordel, momentos históricos que iam de Antônio Conselheiro a Lampião e Maria Bonita, além de passagens do folclore nacional.
Desta forma nasceu o larp “Arraiá de Assumpção” (biblioteca Lenyra Fraccarolli, 2009 e biblioteca Adelpha Figueiredo, 2010). A trama girava em torno da história do “Santo Cangaceiro”, assim conhecido por ter sobrevivido milagrosamente a uma emboscada, fato que despertou a curiosidade e a superstição do povo, personalidades locais e dos algozes do cangaceiro.
Em meu coração, mais do que estabelecer uma conexão com o meu universo imaginário particular por meio da linguagem do larp, pude resgatar inúmeras histórias do interior que meu pai me contava na infância e, assim, conseguir elaborar uma afetividade pelo tema, percebendo que fazia parte de mim muito mais do que acreditava até então.
E o reforço definitivo veio com o larp “A Peleja dos Vivos na Noite dos Mortos” (Centro Cultural da Juventude, 2015), quando revisitamos o folclore nacional com uma história que se passava no sertão das Gerais nos anos 1930. Com um enredo refinado e uma cenografia bastante competente, a história se manifestou em um ponto de pouso de viajantes em uma noite de lua cheia, prato cheio para causos de arrepiar!
Hoje posso dizer que sou apaixonado pelas ricas histórias que a nossa cultura popular tem a oferecer, com humor, inteligência, terror e ficção, e que certamente estarão de volta em algum momento futuro.
Texto: Confrade Godoy
Confraria das Ideias: facebook.com/confrariadasideias
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