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Uma semana e três larps

por Confrade Godoy

Resolvi escrever um texto sobre a recente experiência que tivemos em montar três larps em um curtíssimo espaço de tempo, no final do mês de março. Não que isso seja um marco para a linguagem ou coisa do tipo, afinal existem casos de larps que duraram uma semana inteira ininterrupta, e outros mais por aí que podem ter sido realizados em igual ou menor espaço de tempo.

A relevância que encontro nestas palavras tem uma relação mais direta ao próprio trabalho da Confraria, afinal já houve um tempo em que três larps foram o total da produção do ano todo (não que isso seja bom ou ruim necessariamente, e sim, por conta da reflexão que podemos tirar dessa experiência). 

Três larps, três cidades, três mecânicas e temas diferentes - tudo em uma semana (e dois dias). Recorro ao ano de 2009 para fortalecer estas anotações, quando o Luiz Falcão alertava para alguns fatos, sobre como a Confraria era muito fechada, sendo que um dos aspectos era referente às estruturas dos jogos, que invariavelmente seguiam a mesma forma, mudando o tema e o conteúdo das tramas apenas, entre outros questionamentos. Agradeço não só por isso, mas pelos anos que se seguiram, onde pudemos dar passos discretos porém importantes na direção do oposto, e poder tornar a experiência da Confraria mais completa.

Discorro a seguir sobre a nossa pequena maratona, mas sem me alongar nas semanas de preparação para não tornar este texto longo, fora do propósito inicial, técnico, ou ainda evitando ser confundido com mera publicidade institucional.

No sábado dia 20 de março iniciamos as atividades com uma intervenção "ninja" no evento NerdCon do Sesc Interlagos. A atividade serviu como um "aquecimento" para o que estava por vir.


intervenção "ninja"

Sábado a tarde estávamos separando material, conferindo check-list e aparando as arestas para a realização - no domingo - do larp "Carmen,", onde a personagem dos games Carmen Sandiego foi o ponto de partida para discorrermos sobre cultura de massa, machismo e o papel da mulher na sociedade, utilizando uma trama que se passava na montagem de um filme nos anos 60 (não por acaso, por se tratar da década em que a liberdade sexual começou finalmente a ser discutida e diversos movimentos terem estourado).

larp "Carmen,"

larp "Carmen,"

Terminado o jogo, material guardado, uma boa noite de sono e no dia seguinte já estávamos separando material novamente. A Confraria pegou estrada rumo a Araçariguama, onde passou a noite no Centro de Treinamento do Citibank montando o cenário do larp Protocolo 7.

E assim, na terça, um grupo de estagiários do banco personificava personagens de um futuro distópico, totalitário e opressor. Procuramos discutir sobre opressão, vivência em sociedade, e em especial sobre liberdade - o que cada um pensa e faz da sua.

larp "Protocolo 7"

larp "Protocolo 7"

larp "Protocolo 7"

Mais uma vez, material guardado e uma noite para recuperar o corpo e mentes agitados. Dois dias de preparação, compras e separar novamente material, para que na sexta-feira a Confraria pegasse seis horas de estrada rumo ao AnimeRP - evento do Sesc Rio Preto.

Sábado de reconhecimento do espaço, ajuste dos materiais e mecânicas, e lá estávamos o domingo inteiro com aventuras em um cenário repleto de zumbis. Neste não havia fichas de personagens, e os jogos duravam cerca de 20 a 35 minutos, com uma missão de resgate. A mecânica utilizada foi inspirada pelo zomibelarp.co.uk, e foi traduzida e apresentada para a Confraria pelo NpLarp, em 2012.

"Zombielarp"

"Zombielarp"
"Zombielarp"

Mas as seis horas de viagem de volta não foram suficientes para apaziguar a mente ante tantas experiências vividas. Tem o desgaste físico, da convivência em grupo, dos eventos em si. Mas além disso, da inquietação que me fez escrever este artigo, algo que me fazia crer que havia algo bem especial acontecendo nesses dias.

E então refiz a trajetória pensando nos grupos que envolvemos nessa semana:

Dos ninjas de Interlagos, passando pelo Draikaner e Megacorp que estiveram conosco no mesmo evento - sem falar nas saborosas decorações que a NerdCupcakes prepararam especialmente para a NerdCon, e o NpLarp que trouxe mecânicas de jogo novas para o larp Carmen, e o Zombie larp, passando pelo apoio da Roleplayers no Protocolo 7, e ainda os grupos que conhecemos em Rio Preto, além claro dos organizadores dos três eventos (Sescs e Citibank).

E claro, todos os participantes envolvidos nos larps em questão.

Tive então a dimensão de quantas pessoas envolveram-se conosco ao longo de curto espaço de tempo, compartilhando expectativas e emoções. Esse é um dos aspectos que me marcaram bastante, sobre como engajamento provoca mais engajamento - e lembro do começo da Confraria, quando pessoas de fora (inclusive da família) diziam que não deveria seguir adiante com isso, que não levaria a lugar algum... 

Também faço uma reflexão quanto aos temas abordados, dos anos 60 ao futuro distópico, terminando no caos contemporâneo zumbi. E estendendo um pouco mais a análise, não posso esquecer do larp "Secou a Terra do Toró", realizado no começo do ano, no Sesc Pompéia, com uma mecânica totalmente diferente, voltado ao público infantil.


larp "Secou a Terra do Toró"

larp "Secou a Terra do Toró"

larp "Secou a Terra do Toró"

Essa diversidade - de temas, mecânicas de jogo, cidades, grupos e públicos - é algo que me fascina, que se potencializa pelo dinamismo da linguagem do larp.
Acredito que se posso deixar alguma contribuição útil neste texto, é justamente reafirmar a importância de seguir adiante, de produzir, de se apropriar do potencial transformador do larp para exercer em nossa própria trajetória essa energia colossal. De não aceitar a rotina, de não dar ouvidos àqueles que querem que você permaneça na inércia tal qual eles próprios, de compreender as críticas construtivas, de procurar uma auto-crítica constante, de mudar a despeito de si mesmo (esta última frase eu empresto do rpg Vampiro, a máscara - Mark Rein Hagen, que tanto me fascinou nos idos de 1996).

Ajustar o caminho, acreditar no que se faz, e manter a mente aberta, são predicados fundamentais nessa jornada - e olha que para um "cabeça dura" como eu isso não é tarefa fácil, que o digam os demais confrades!




Referências:

larp "Carmen,"
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.809595565782609.1073741859.356812231060947&type=3


larp "Protocolo 7"
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.810492505692915.1073741860.356812231060947&type=3


larp "Zombielarp"
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.815618608513638.1073741861.356812231060947&type=3

zombielarp.co.uk

larp "Secou a Terra do Toró"
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.778307218911444.1073741858.356812231060947&type=3


Luiz Falcão é membro da Confraria das Ideias, e fundador do NpLarp e Boi Voador.


Draikaner é um dos mais importantes grupos de Swordplay da atualidade.


Roleplayers é uma empresa que trabalha com narração de jogos, especialmente de rpg.


Megacorp é um tradicional grupo de larp de São Paulo.


NerdCupcakes é uma empresa que é especialista em cupcakes temáticos.


NerdCon é o evento organizado pelo Sesc Interlagos.


Animerp é o evento organizado pelo Sesc Rio Preto.





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